Nunca antes se pôs tanto em causa o futuro; caminhamos para um mundo cada vez mais mutilado e uma sociedade cada vez mais corrompida. Os recentes acontecimentos mostram-nos todos os dias que esse processo mais rápido a cada dia que passa não pode continuar a ser ignorado. O aquecimento global, a crise financeira, o esgotamento dos recursos naturais, o aumento da criminalidade ambiental e delinquente.. Olhamos para o futuro com receio, mas nem sempre conscientes.
Os arquitectos e engenheiros são hoje em dia responsabilizados por metade destes factores, e os jovens são, provavelmente, os melhores colocados para fazer uma diferença na outra metade. Os estudantes de arquitectura estão, por isso, numa posição favorável para lutar por uma mudança. Afinal, que futuro nos espera? Não sabemos exactamente a resposta e por isso nos sentimos “sem rumo”, mas sabemos que pelo estado actual das coisas, ha muito a fazer para que esse futuro seja melhor.
Quando falamos do futuro da arquitectura, é hoje em dia consensual que a construção deve ser mais sustentável. Isso é compreensivel quando vemos que a construção é responsavel por utilizar mais de 50% das fontes mundiais de energia; pelo consumo abusivo das matérias primas do planeta e por emitir uma grande parte do Co2 responsável pelas alterações climatéricas. Quanto ao futuro do estudante de arquitectura, é necessário que este esteja preparado para enfrentar e realidade que o espera lá fora, em que apenas uma minoria de arquitectos se podem dar ao luxo de contornar as normas impostas pelas politicas nacionais e europeias cada vez mais numerosas. Nesse sentido, questiono-me quanto ao “rumo” actual do curso. Uma coisa é falar da grande falta sentida de professores no departamento devido à aposta na formaçao de doutores, o que é sem duvida uma mais valia. Alguns tiveram apenas o azar de serem apanhados na transição para o tratado de Bolonha, uma questão fora do alcance das universidades. Outra coisa é falar dos conteúdos e organização do curso: Se existem condições para uma formação completa, por que razão isso não acontece? A verdade, é que as relações conflituosas no seio da própria universidade são um factor prejudicial para os estudantes. Os responsáveis pela reestruturação dos programas imposta pela mudança para bolonha não chegam a um consenso. Sente-se a falta de uma coordenação vertical e horizontal. Existem cadeiras que não servem para nada, pois não têm consequência na prática do projecto. As cadeiras de engenharia continuam a funcionar alheias ao projecto porque os arquitectos e os engenheiros não se entendem. Estamos perante um ensino que reproduz as relações conflituosas entre engenheiros e arquitectos, o que bom não é de certeza. Se devemos caminhar para uma arquitectura mais sustentável, é necessário que haja uma formação integrada em que os temas da engenharia sejam leccionados em função do projecto. Não faz sentido, por exemplo, a existência de uma cadeira de construção no 2º ano virada para a prática completamente alheia em relação ao resto do curso e de cadeiras teóricas no 3º ano de estruturas e processos de construção. No pior dos cenários, fazia sentido que essa ordem fosse invertida, e no melhor, que funcionassem em conjunto com o projecto, como um complemento. Por outro lado, é necessário que a arquitectura e a engenharia se complementem, cada uma com o protagonismo devido, numa relação equilibrada e sensata. Os estudantes de arquitectura não podem ser engenheiros, nem vice-versa.
O tratado de Bolonha é uma medida que serve apenas para reduzir os gastos governamentais com o ensino público e facilitar as trocas no mercado de trabalho europeu, remetendo para segundo plano a qualidade. Estamos na era do muito, rápido e barato. Os estudantes estão a ser vendidos como fast-food, o que não significa que o sejam.. é necessário que reinvindiquem uma realidade mais ajustada às suas necessidades. Voltaire dizia que o segredo da felicidade residia no usufruto do nosso trabalho. É possível ter um futuro melhor se trabalharmos em conjunto.